Séries Na Memória – #19: Studio 60 on The Sunset Strip

Existem séries que precisam estar em toda e qualquer lista de indicação, e um exemplo disso é Studio 60 on The Sunset Strip. Embora tenha durado apenas uma temporada, seus episódios foram marcantes, merecendo muito estar sendo recordados aqui no Séries na Memória.

Protagonizada por Matthew Perry (Chandler, de Friends) e Bradley Whitford (Josh de The West Wing), a história girava em torno do dia a dia de uma dupla de roteiristas de um programa de humor americano. Apostando em ironias e críticas veladas (ou explícitas), o enredo não teve medo de tratar questões como o excesso de moralismo e a mania de politicamente correto que assola o gênero ultimamente.

Produzida pelo premiado Aaron Sorkin, o roteiro não conseguiu manter bons índices de audiência, contudo, chamou atenção por misturar comédia e drama de uma maneira diferente, se inspirando no que poderiam ser os bastidores de Saturday Night Live e criando um linguagem própria.

Seus personagens, Matt Albie e Danny Tripp, iniciam a trama longe do programa que serve como pano de fundo, porém, se tornam rapidamente sua alma e sua grande polêmica. Afastados da emissora fictícia, eles retornam ao universo do canal graças à nova presidente (Amanda Peet) e dão início à inúmeras discussões sobre o que pode ou não ser levado ao ar.

Studio 60 on The Sunset Strip

Longe da cultura americana, um pouco mais rígida do que a nossa costuma ser, às vezes fica até meio complicado entender a hipocrisia e leve censura que a trama demonstra. Apesar disso, fica claro que se tratam de inspirações reais, e que fazer uma piada sobre muçulmanos é realmente algo que divide opiniões por lá, por exemplo. Não que por aqui também não existam dúvidas sobre os limites da ficção, vide humoristas e seus processos, contudo, as coisas parecem mais graves. Dessa forma, dá até pra relacionar a ideia de que seu cancelamento esteja diretamente ligado à crítica que oferecia, já que não era do tipo que agrada o telespectador em busca de entretenimento puro e simples.

Especialmente porque além da fé islâmica, o enredo também trata da religião cristã de uma maneira bastante direta.  Através da personagem Harriet (Sarah Paulson, antes de American Horror Story), que mantinha um relacionamento meio torto com Matt, foram muitos os temas que questionaram o quanto se pode brincar com conceitos desse tipo. Cheia de nuances, a atriz defendia suas crenças, tentando equilibrar sua carreira com a vida pessoal. A dinâmica desenvolvida por ela e o roteirista era tão interessante quanto a curiosidade em relação ao seu passado juntos, porém, a densidade em que as coisas caminhavam nem sempre tornavam a série fácil de assistir.

Há quem diga que esse teria sido o principal problema da trama, já que esconderia muita prepotência, mas nada que se compare a The Newsroom, atual série de Sorkin, absolutamente detestável. Pelo contrário, todos diálogos afiados, com referências à realidade da tevê local e doses extras de honestidade fazem com que valha à pena acompanhar os capítulos. Uma prova disso é que, apesar do passado de Friends, é quase impossível enxergar em Matthew qualquer resquício de Chandler. Embora pareça algo bobo e até obrigatório, esse pequeno detalhe dá a dimensão perfeita de que Studio 60 consegue se sustentar sozinha. E só por isso já merecia ter ganhado uma duração maior.

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