Séries Na Memória – #20: Six Feet Under

Seguindo na #20 do Séries na Memória, chegou a vez de falar sobre um drama mais do que consagrado.

Dois anos depois do Oscar pelo roteiro de Beleza Americana, Alan Ball criou uma das melhores séries já produzidas. Six Feet Under mistura as obsessões de Ball – sexo e morte – sem parecer repulsivo, sendo elementos-chave das cinco temporadas. O que pode assustar os telespectadores de primeira viagem é na verdade o que conquista; há algo de fascinante da história da família Fisher, no modo como tratam a mortalidade alheia, em seu psicológico fragmentado e a carapuça firme que precisam exibir todos os dias seja no trabalho, na escola ou em relacionamentos.

Six Feet Under

A família Fisher mora em cima de uma casa funerária, onde o patriarca Nathaniel (Richard Jenkins) dirige o negócio de preparar corpos e velar os mortos, provendo o maior conforto possível para seus familiares enlutados em momentos tão difíceis. Precisam se mostrar fortes o suficiente por todos os clientes, o que fica complicado quando eles próprios perdem pessoas que amam e são assolados pela morbidez do serviço que praticam todos os dias. A mortalidade é tema recorrente e tratado com uma naturalidade às vezes perturbadora.

É Natal, e Nathaniel Fisher vai buscar o filho Nate (Peter Krause) no aeroporto, vindo de Seattle, para onde se mudou aos 18 anos, fugindo do negócio da família e carregado de daddy issues, quando seu carro é acertado em cheio por um ônibus. O pai da família Fisher morre no episódio piloto e Nate se vê preso em Los Angeles com uma casa funerária de que nunca gostou para cuidar.

A família Fisher é ainda composta por David (Michael C. Hall, de Dexter), o irmão-sócio gay não assumido que sempre procurou pela aceitação do pai; a mãe Ruth (Frances Conroy), com a consciência pesada por ter traído Nathaniel por dois anos com o cabeleireiro; e a irmã-problema Claire (Lauren Ambrose, da 4ª temporada de Torchwood), com um péssimo gosto para escolher namorados.

Como se já não tivesse a própria família com quem se preocupar, Nate ainda precisa lidar com os pais e o irmão desregulado da igualmente estranha e misteriosa namorada Brenda Chenowith (Rachel Griffiths, de Brothers and Sisters), que conheceu no vôo de Seattle para Los Angeles.

Os Fisher estão sempre tão ocupados em ser sensíveis com os enlutados, presentes em sua casa diariamente, que aprenderam a ser invisíveis. Os momentos em que Dave e Ruth explodem são ótimos, mas raros. Nate perdeu o processo de invisibilidade ao sair de casa, por isso é o personagem mais impulsivo e intrigante da série.

Nathaniel continua aparecendo durante toda a série, assim como outros clientes-metáfora da funerária; não como fantasmas, mas como a personificação dos medos dos personagens. Um exemplo é quando o ainda não assumido Dave prepara o corpo de um jovem espancado até a morte por ser gay.

O roteiro é incrível, fantástico e sensível. Todos esses medos e imaginações também rendem ótimas cenas em que os Fisher revelam seus desejos e vontades mais profundos, seja por meio de um ataque nervoso no meio de um funeral ou uma cena musical enquanto se limpa a sala de velórios.

A série foi feita para ser levada a sério e traz um sentimento de epifania. O arco final de episódios tem uma carga dramática incrível e a series finale é uma das melhores coisas já produzidas para a TV. Combinados a uma trilha sonora fantástica, Six Feet Under é imperdível.

0 COMENTÁRIOS:

Postar um comentário

My Instagram