Oi! Tudo bem? Então, depois de um tempo voltando ao Minha Memória de Séries. Hoje trazendo uma das séries que me marcou muito nos últimos tempos, ela já é um pouco velha, mas até um certo tempo atrás foi reprisada a exaustão na TV e foi nessas reprises que pude assistir as histórias que se contavam em cada episódio. Hoje falo de Joan of Arcadia.
Com encerramento da bem sucedida Touched By An Angel (também bastante conhecida aqui no Brasil, traduzida como O Toque de um Anjo) em 2003, o canal americano CBS decidiu produzir uma nova série que seguiria uma linha semelhante: Joan of Arcadia. O nome da série é uma alusão à Joana d’Arc, a conhecida jovem heroína da Guerra dos 100 anos. Em sua primeira temporada, a série teve boa audiência e recebeu uma indicação ao Emmy na categoria “melhor série dramática”. No entanto sofreu uma queda de audiência muito grande em seu segundo ano, o que resultou em seu cancelamento prematuro.
Joan of Arcadia
Joan Girardi, uma garota de 16 anos, começou a agir de forma estranha. O resultado é que aparecem para elas pessoas que se apresentam como Deuses, dando orientações sobre sua vida. Mantendo isso em segredo, sobretudo da sua família, Joan começa a perguntar por que ela é capaz de ver isso, levando a sério as mensagens de Deus, enquanto tenta ser normal.
O Todo Poderoso começa a encarregar a garota de algumas tarefas, que ela precisa cumprir enquanto leva sua vida cotidiana e seus eventuais conflitos familiares.
É uma série norte-americana, exibida pela rede CBS em 2003 até 2005 (quando foi cancelada). Criado por Barbara Hall, o seriado era estrelado por Amber Tamblyn no papel de Joan. No Brasil a série foi exibida inicialmente pelo Canal Sony e depois pelo Sony Spin, foi por onde conheci a série e passei a assistir até o canal encerrar suas atividades.
A história é obviamente baseada nos relatos sobre Joana D’Arc (Joan Of Arc), a jovem heroína francesa que foi queimada como bruxa após vencer o exército inglês durante a Guerra dos Cem Anos. A série se aproveita da mitologia em volta dessa figura que, dizem, tinham conversas justamente com Deus.
A família de Joan
“Joan of Arcadia” é um drama que mostra uma típica família enfrentando situações típicas – a não ser pelo fato da filha adolescente repentinamente, e inesperadamente, começar a conversar com Deus.
O patriarca é Will Girardi, o novo e rígido chefe da polícia de Arcadia, que sonha em transformar a cidade num lugar seguro para sua família e para a comunidade. Mas uma série de terríveis crimes em sua nova e anteriormente sossegada cidade desafia o desejo de ordem de Girardi, assim como os altos e baixos que ele tem que resolver em sua casa.
Sua filha Joan, uma adolescente comum, começou a agir de maneira estranha. Ninguém sabe que isso é resultado das diversas pessoas que começaram a surgir na vida dela, alegando serem Deus, e então dando informações específicas do que ela deve fazer – como, por exemplo, para conseguir um emprego.
As aparições são algo difícil para ela acreditar, principalmente por ela nunca saber quem será a próxima pessoa a fazer isso. Em um minuto, Deus aparece na forma de um belo garoto da idade dela, e no dia seguinte Ele é a mulher da cantina da escola. Por enquanto, ela mantém isso em segredo.
Ainda na família Girardi, temos sua mãe Helen; Luke, seu irmão de 15 anos que só pensa em estudar; e Kevin, seu irmão mais velho e ex-astro do time da escola, que atualmente está numa cadeira de rodas como resultado de um acidente de carro.
Sem saber o que Deus quer, e até mesmo se ela atualmente está mentalmente sã, Joan continua tentando seguir os ocultos conselhos de Deus, enquanto continua tentando ser uma adolescente “normal”.
Os dois irmãos de Joan e sua melhor amiga
O que é muito legal na série é o tom leve com que religião é tratada. Sua mãe é católica, sua melhor amiga filha de um rabino, seu pai é ateu... enfim... Mas em nenhum momento Deus discute com ela qual é a "religião certa".
Também não se fala em mal, pecado, em punição, em diabo ou inferno. É apenas uma orientação e algumas dicas que Joan recebe e discute-se apenas sobre a injustiça de certas coisas que acontecem.
O plot principal é o livre-arbítrio e como boas ações influenciam a nossa própria vida. Não existe uma barganha para ganhar vaga no paraíso ou recompensas materiais. O "papo" entre Joan e Deus é sempre muito aberto, espontâneo, como verdadeiros amigos e tratam de como Joan pode fazer o bem ajudando a comunidade, os amigos, a família gerando uma espécie de corrente. E, por consequência, a vida da própria Joan se modifica para melhor e ela cresce como pessoa e ajuda todos a sua volta a melhorar também.
Amber Tamblyn interpreta Joan
No começo tudo pode parecer aleatório nesses encontros entre eles, mas a verdade é que cada passo que Joan dá guiada por esse novo amigo, tem relevância e causa impacto, não apenas na vida das pessoas que a cercam, mas em todos os lugares.
O interessante é que essa premissa serve para a própria série. Nós talvez não enxerguemos logo de cara onde isso vai dar, mas em algum ponto, tudo fará sentido. Esse é um dos primeiros conselhos que Joan recebe de Deus, que aparece nas mais variadas formas.
Enquanto Joan vê sua vida de adolescente virar uma loucura de experiências variadas (todas gentilmente sugeridas por Deus) vamos conhecendo melhor cada personagem dessa trama e o resultado é um apego surpreendente à maioria deles.
Sem dúvida o elenco todo tem bastante qualidade, mas o principal é que não estamos lidando com aqueles rostinhos bonitos que estão ali somente por isso. O esforço da produção para fazer essas pessoas “reais de verdade” é notável e faz a diferença.
No pilot da série:
“É o seguinte: eu não me pareço assim. Não me pareço com nada que você reconheceria. Você não consegue me ver. Minha voz não é assim. Minha voz não parece com nada que você reconheceria. Entende? Eu estou além da sua experiência. Eu tomei essa forma porque você fica confortável com ela. Ela faz sentido pra você.”
Em sua primeira abordagem, Deus tenta conversar com a menina e lhe diz uma série de fatos sobre a vida dela a fim de convencê-la que ele é Deus. Mas a menina permanece cética e não dá atenção. Então, Deus lembra a menina de algumas promessas que ela fez para Ele (estudaria mais, limparia seu quarto, iria a igreja) caso seu irmão sobrevivesse ao acidente de carro que sofreu. Aí ela começa a dar atenção, porque só Deus saberia essas informações. Como prova definitiva ela pede uma prova: que Ele realize um milagre. Então, Ele para em frente a uma árvore e ela diz com desdém, “isso é uma árvore”, e Ele rebate de forma bem-humorada, “vamos ver você fazer uma”.
A partir desse ponto a série caminha usando mais ou menos a mesma receita. Deus aparece de uma forma diferente e pede para a menina realizar alguma tarefa. O resultado faz parte de um propósito maior que não apenas tem impacto na vida dela, mas também naqueles ao seu redor. Com isso, a cada episódio Joan aprende algo que complete a sua natureza e a faça uma pessoa melhor. E essas tarefas não são apenas “arrume seu quarto” ou “arranje um emprego”, algumas delas a garota não faz ideia em como realizar, tornando-se um verdadeiro desafio. Assim, ela tem que se esforçar e pensar em diferentes soluções, às vezes ir por tentativa e erro, por vezes sem conseguir realizar, mas sempre estimulando seu lado criativo e buscando o melhor, superando seus medos e obstáculos.
Reprodução
Pra ter contato com Joan, Deus não é uma divindade totalmente sobrenatural, algo gigantesco, nem nada perto disso: é sempre uma pessoa. Na verdade, várias pessoas: Ele não assume o corpo de pessoas por aí, não é isso, mas ele tem várias formas de falar com a Joan, dependendo da ocasião e do lugar que ela se encontra, então Deus pode ser um garoto bonito do colégio, uma velhinha, uma criança ou até o apresentador direto da televisão, mas todos são o mesmo Deus. E não é visível apenas para Joan, as outras pessoas ao redor conseguem ver que Joan está falando com alguém, mas Deus se relaciona com cada um à sua maneira, então é só a Joan que mantém esse tipo de contato com Ele.
Deus passa a ser um guia na vida de Joan. A cada episódio, Deus faz um pedido a Joan e a deixa livre para interpretações e para obedecê-lo ou não. Mesmo que pareça não fazer nenhum sentido no começo, Joan acaba entendendo que Deus a usa como instrumento para os propósitos dEle e cada ação dela tem uma consequência pra cada pessoa que interfere na vida dela, seja a família dela ou algum colega de classe que ela mal sabe o nome. É muito legal como tudo que aparentemente não tem ligação alguma de repente se encaixa perfeitamente, é Deus é sempre uma pessoa muito legal, com senso de humor, carismático e com excelentes frases sobre a vida no geral.
Além de toda essa interferência divina, Joan e os outros personagens também são excelentes:
Joan Girardi (Amber Tamblyn, de Quatro Amigas e Um Jeans Viajante) tem 16 anos, é filha do chefe da delegacia de Arcadia com a professora da própria escola em que ela e o irmão mais novo estudam. É tudo que se espera de uma filha do meio: Não costuma se envolver em problemas, tem alguns amigos mas não é popular, tem notas regulares… Enfim, não é nem 8, nem 80. E é mais ou menos isso a graça de ter uma protagonista como a Joan: Aparentemente ela é super comum, não tem nada de extraordinário, mas é ela quem começa a aos poucos melhorar a vida de todo mundo, é ela que tá disposta a fazer coisas que nem ela se imaginava fazendo. E nem sempre ela se dá super bem em tudo, óbvio, mas ela tenta, às vezes de mau humor, às vezes frustrada, querendo desistir… Mas ela tá lá pra mostrar que é mais que uma menina meia boca e olha, eu amaria demais ter uma amiga como a Joan.
Kevin Girardi (Jason Ritter, de Parenthood) é o irmão mais velho de Joan, a cota de galã da série, era jogador de basquete, estava prestes a começar a faculdade com a bolsa de estudos que ganhou por ser atleta quando sofreu um acidente de carro e ficou paraplégico. O legal é que não tratam ele como um exemplo de ser humano ou digno de pena por causa do acidente, mas mostra como ele mesmo tem que superar esse acontecimento e não desistir da própria vida. Até chegar lá, ele consegue ser bem irritante às vezes, mas também tem seus momentos de ser legal, engraçado e um bom irmão mais velho pra Joan e pro Luke.
Luke Girardi (interpretado por Michael Welch) é o mais novo dos três, um nerd completo, obcecado por experiências e explicações científicas, tímido e com todos os amigos de personalidade compatível com a dele. Como ele sempre aparenta ser o mais inteligente e que sabe de tudo, é legal ver que ele tem um lado vulnerável e sensível, e ele também é engraçado, fofo e tem uma ótima relação com os dois irmãos. Ele estuda no colégio de Joan – onde a mãe deles trabalha – então os dois acabam convivendo bastante juntos e tem até alguns amigos em comum.
Grace Polk (interpretada por Becky Wahlstrom)é colega da escola deles, faz parte dos excluídos do colégio e tá sempre na sala do diretor por algum motivo. É vítima de fofocas pela maneira como se veste, sempre largada e desleixada. Por ser muito fechada, ela é uma pessoa difícil de se aproximar e de lidar, mas quando ela tem chance de mostrar quem ela é além do que todo mundo pensa, Grace é uma garota madura, uma ótima amiga, que tem também suas fraquezas e problemas em meio ao humor ácido e sarcástico.
Adam Rove (interpretado por Chris Marquette)é amigo de infância de Grace, e parece que ninguém além dela lembra que ele existe. Ele tá sempre matando aula e tá sempre quieto, isolado. Ele gosta muito de arte no geral, então isso faz com que ele passe bastante tempo com a mãe de Joan na escola, que trabalha justamente nessa área. E ele também tem uma mania estranha, que no começo é meio irritante, de chamar a Joan de Jane, mas depois acaba virando um apelido carinhoso.
Esses são os mais importantes, mas ainda tem os pais da Joan, do Adam e da Grace, e outros amigos do colégio deles, que podem não aparecer com tanta frequência mas também tem ótimas cenas! Com apenas duas temporadas (infelizmente!) – 45 episódios de 40 minutos cada um, que dá pra achar pra baixar legendado facilmente, mesmo sendo uma série antiga -, a série tem bastante altos e baixos (alguns muito baixos…), não vou te enganar, mas eu juro que vale a pena! Todo o resto é tão bom – desde a abertura até a trilha sonora – que os pontos negativos – alguns plot meio fracos e, principalmente, o cancelamento da série sem um desfecho concreto – se tornam insignificantes. Em pouco tempo todos os personagens melhoram muito como pessoas, e a série como um todo trás ótimas lições sobre a vida no geral, sofrimento, amor, futuro, sem ser daquelas lições de morais forçadas e ensaiadas. Além de ser muito engraçada, fofa e cativante!
A série também contou com participações notáveis como a de Hilary Duff e Zachary Quinto.
Vamos relembrar a abertura, que contou com a conhecida música“One of Us” da Joan Osborne.
Finalizando já, é uma série que também me marcou de várias formas e aos poucos foi me tornando uma pessoa melhor. Você não precisa ser religioso ou acreditar em Deus para acompanhar a série, porque além de mostrar um pouco dessa parte, a série é sobre superação, lições e melhorias na vida. Em como você é capaz de realizar feitos grandiosos se tiver boa vontade, se tiver a mente aberta e procurar ser uma boa pessoa para você e para os demais. Amar ao próximo como a si mesmo não é algo restrito aos cristãos, é algo que faz parte do ser humano.
A questão da fé é tratada com bastante delicadeza e bom humor, sempre impondo diversas visões sobre o assunto, questionando pontos chave, como a difícil união entre ciência e crença.
Por todos esses elementos Joan Of Arcadia deve ser tratada como uma jóia rara da TV. Infelizmente não foi possível vermos concretizadas todas as intenções da série, mas de forma alguma isso deve ser visto como demérito. O que foi produzido e levado ao ar é exemplo de entretenimento inteligente.
BÔNUS
Para quem se interessou, deixo aqui o primeiro episódio:
“Não se trata de religião, Joan. Se trata de completar sua natureza.”
A verdade é que a série mostra de forma bem ilustrada como Deus aparece constantemente em nossas vidas. Talvez ele não apareça como uma pessoa, mas através delas, por meio de pequenos gestos, nos mandando pensamentos, sonhos e outros inúmeros sinais. Ele fala conosco o tempo todo, a questão é, será que você está aberto(a) para ouvir? Isso é tudo pessoal, até a próxima!
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