Música e Lágrimas

Os que lêem o blog já devem estar carecas de saber que eu adoro um grande dramalhão. Filmes antigos com mocinhas e heróis cheios de dificuldades para ficarem juntos, mas que depois de muitos percalços do destino conseguem concretizar o seu amor (apenas) na cena final, com direito a um beijo de língua e uma música brega estourando as caixas de som.

Por isso, decidi escrever um texto sobre as músicas românticas inesquecíveis do cinema. Aquelas que, em perfeita harmonia, com uma cena de beijo, fazem-nos debulhar em lágrimas.

É notório que o roteiro de Casablanca é um dos mais perfeitos da história do cinema. Quem assistiu ao filme de Spike Jonze, Adaptação, escutou diversas vezes que o roteiro de Casablanca é o melhor já escrito até hoje. Mas o que seria do filme se em nenhum momento Ilsa, personagem de Ingrid Bergman, se aproximasse do pianista Sam e pedisse para tocar "As Time Goes By". "Play it once, Sam. For old times' sake". O que seria, também, do filme de Franco Zeffirelli, Amor sem Fim, sem a música de Lionel Richie: "Endless Love"? E como seria possível assistir a O Guarda-Costas se Whitney Houston não se esgoelasse no final para cantar "I Will Always Love You"?

A obsessão pela música perfeita vem de tempos. Os executivos dos grandes estúdios aprenderam desde cedo que precisam de uma bela música para tornar o filme mais atraente; por isso a Dorothy, em 1939, já vivia cantarolando "Over The Rainbow" em O Mágico de Oz e Julie Andrews, em 1965, não deixou seus enteados em paz cantando repetidas vezes as musiquinhas de A Noviça Rebelde.

Cena de ''A Noviça Rebelde''

A musica é tão importante que muitas vezes os produtores fazem questão que os próprios atores cantem. Como ocorreu com Meryl Streep em Lembranças de Hollywood, quando ela teve de soltar a voz para cantar "I'm Checking Out", e Audrey Hepburn, que cantou lindamente "Moonriver" em Bonequinha de Luxo. Talvez este seja o motivo de tantas cantoras serem convidadas para fazer cinema. Barbra Streisend já cantou a música tema de quase todas as suas personagens, e chegou até a ganhar o Oscar por "Evergreen", de Nasce uma Estrela, além de ter sido indicada por "I've Finally Found Someone", de O Espelho Tem Duas Faces. Outra cantora que nunca desiste de virar atriz é Madonna, que quase todos os anos ganha o troféu Framboesa de pior interpretação. Se ela não acerta como atriz, como cantora ela sempre dá certo. Já interpretou duas músicas no Oscar e ganhou as duas vezes, "Sooner or Later", de Dick Tracy, e "You Must Love Me", de Evita (o filme era chato pra danar, mas a música é mesmo bem bonita); é certo que as letras nunca eram suas, mas seu desempenho foi de invejar.

A música lenta geralmente está associada a um filme romântico, mas nem sempre isto é verdade. Extremamente romântica, a música "How Do I Live" foi tema de Con Air; ninguém conseguiu escutar essa música no filme entre tantas explosões e aviões desgovernados. Bem, mas ela está lá e foi até indicada ao Oscar. A comédia A Dama de Vermelho tinha a canção vencedora do Oscar "I Just Called to Say I Love You". E ainda o catastrófico (em todas as acepções da palavra) Armageddon explorava a exaustão a música baba "I Don't Wanna Miss a Thing" entre uma explosão e outra.

Mas é inegável que o melhor lugar para as músicas lentas é mesmo nos filmes românticos. Quando Cary Grant descobre que Deborrah Kerr está paralítica na última cena de Tarde Demais para Esquecer e, mesmo assim, vivem felizes para sempre ao som de "An Affair to Remember". Ou quando Ryan O'Neal sai do hospital depois que Ally MacGraw está morta e escutamos "Where Do I Begin" em Love Story.

Em O Sol da Meia-noite o drama do bailarino Mikhail Baryshnikov não funcionaria nada se não existisse "Say You, Say Me" e jamais acreditaríamos no caso amoroso de Tom Cruise e Kelly McGillis se "Take My Breath Away" não fosse trilha de Top Gun; muito menos no romance caliente de Jennifer Grey e Patrick Swayze, que não teria emplacado em Dirty Dancing se não fosse "I've Had the Time of My Life". E não adiantaria nada Richard Gere ter se vestido de marinheiro se A Força do Destino tivesse suprimido "Up Where We Belong" do roteiro.

O encantador filme Antes do Amanhecer fica ainda mais perfeito por causa da música "Come Here", que Julie Delpy e Ethan Hawke escutam numa velha loja de discos em Viena. E se não fosse a canção de Carly Simon, "Let The River Run", Mike Nichols não teria nos presenteado com uma das sequências iniciais mais belas do cinema, uma tomada sobre a baía de Nova York no ótimo Uma Secretária de Futuro. Aliás, outra musica de Carly Simon salvou do fracasso outro filme de Mike Nichols, A Difícil Arte de Amar, e a música era "Coming Around Again".

Para terminar, temos de relembrar as três músicas de Celine Dion que embalaram romances nos anos 90 e foram bastante premiadas. "Beauty and The Beast", que embalou um casal no mínino inusitado em A Bela e a Fera, num baile dourado que ainda hoje nos enche os olhos de cores. "Because You Loved Me", que ganhou o Grammy, mas não o Oscar, e nos encheu os olhos não de cores, mas sim de lágrimas quando Michelle Pfieffer descobriu que Robert Redford estava morto. E, finalmente, "My Heart Will Go On"... essa foi uma verdadeira overdose! Alguém ainda consegue escutar essa música?

Sei que ainda faltaram muitas músicas, mas prometo que dia desses volto a tocar no assunto.

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